A obra, publicada depois do tricampeonato, é um documento precioso da história.
Mário Jorge Lobo Zagallo, campeão mundial como jogador, em 1958 e 1962, como treinador, em 1970, e como coordenador técnico, em 1994, é o nome mais vencedor da história do futebol. Recentemente, comprei em um sebo o livro “Lições da Copa”, lançado depois do tricampeonato mundial e que é escrito em primeira pessoa pelo “Velho Lobo”. A obra traz muitas histórias de bastidores.
Em 1969, João Saldanha era o técnico da seleção e foi o responsável por classificar a equipe brasileira para o México. Entretanto, ele não resistiu às pressões dos militares e acabou demitido. Zagallo assumiu o comando quando faltavam setenta e oito dias para a estreia contra a Tchecoslováquia. Uma das histórias mais curiosas que encontrei no livro é sobre justamente o momento em que o então treinador do Botafogo foi escolhido para o cargo. O preparador físico Admildo Chirol e o presidente da comissão técnica, Antônio do Passo, queriam falar com Zagallo e marcaram um encontro na Praia Vermelha, no Rio de Janeiro.
Zagallo descreve a cena: “(…) Cheguei à Praia Vermelha e fiquei em um canto esperando. O Dr. Antônio do Passo apareceu logo e todos vieram para o meu carro conversar. Não poderia deixar a viatura com a roupa que tinha sobre o corpo. Não demorou dez minutos, os repórteres apareceram por todos os lados. Pegaram a gente no maior flagrante. O Dr. Antônio do Passo, desejoso de que nosso encontro fosse o mais sigiloso possível, chegou a irritar-se: ‘Não batam fotografias, estamos apenas conversando. Zagallo, vamos sair daqui.’(…).” Zagallo ligou o carro e começou a dirigir pelas ruas do Rio.
Foi durante o trajeto que Zagallo recebeu o convite para assumir a seleção: “(…) Em certo ponto, conseguimos nos livrar dos perseguidores. Então, pude conversar com o Dr. Antônio do Passo. Este perguntou-me se eu encararia um convite para ser o técnico da seleção: ‘Não há nenhum problema. Não sou de intimidar-me com dificuldades. Aceito a luta.’ (…).” Zagallo exigiu liberdade para trabalhar e avisou que não aceitaria qualquer interferência. Cerca de setenta dias depois, a seleção brasileira goleou a Tchecoslováquia por 4 a 1, na estreia, em Guadalajara, no México, e dava arrancada para o tricampeonato mundial.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.